domingo, 8 de agosto de 2010

O açougueiro

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Naquela pacata cidade existia um moreno de mais ou menos 1,80m; cabelo liso, que provavelmente tenha sido adquirido da descendência portuguesa; tinha os dentes todos sãos; se fosse um escravo com certeza teria um grande valor. Era também forte como um touro e ao mesmo tempo ágil como uma lebre.

Destacava-se nos campos de areia onde era um atacante de profissão. Muitos diziam que ele poderia jogar nos grandes times e quem sabe até ir para a Europa. Perto da área ele era um perigo, poderia derrubar os marcadores como um elefante derruba uma árvore. Era agressivo e ágil como um gato do mato e perseguia a bola como um falcão a sua presa.

Voltava para casa após os jogos ferido, sem ar, mas mesmo assim sobrava tempo para namorar as moças da cidade. Ele era sensação entre elas. Sempre estava namorando uma bela garota e ao mesmo tempo estava despedaçando os corações de todas as outras.

Tinha namorado a filha do prefeito, de alguns dos vereadores, dos grandes lojistas. Mas não era só por dinheiro que se encantava. Algumas vezes namorou lavadeiras, costureiras, mulheres da vida e sempre buscava a essência que todo homem sábio procura nas melhores mulheres.

Mas não era o namoro igual ao de hoje, ele era respeitoso e roubar um beijo era sinal de uma noite ganha. E era por isso que enfeitiçava as outras meninas. Todas queriam ser alvo de suas cantadas e serem surpreendidas por belas músicas cantadas sob o som da viola, que ganhou do avô, a luz do luar.

Durante a semana, era um simples açougueiro, profissão que aprendeu com a família. Conhecia as carnes pelo cheiro, pela cor, e tratava com se fossem mulheres. Conhecia o cheiro, o toque, as curvas e como elas deveriam ser tratadas para que lhe dessem o que precisava.

Rapidamente com o machado despedaçava a carne, separava os miúdos e as partes que não serviam para serem deglutidas. E, apesar de toda a brutalidade, havia magia nos movimentos pré-determinados, como se fosse um dança e por isso nunca reclamara do trabalho. Além de todo prazer em estar trabalhando, vendia muito bem.

E ganhava bem mesmo. Às vezes viajava para praias e capitais. E, como uma procissão para um santo, as mulheres o levavam a rodoviárias. Muitas choravam, outras até desmaiavam, mas logo chegando a outras cidades conhecia novas mulheres. E em menos de um mês conhecia todas e conquistava boa parte. E novamente seguia-se a procissão levando-o à rodoviária.

E quando voltava era festa na cidade. Seus companheiros de time se alegravam porque o craque e grande amigo voltara. As moças novas se jubilavam porque podiam contemplar o belo rapaz e as mais antigas apenas pensavam na carne.

Quando mais velho, casado, foi perguntado pelo seu neto como fazer tanto sucesso com as mulheres. Ele falou:

“Cada mulher tem um aroma, um belo som que faz quando está feliz. Vários sorrisos, um para cada finalidade. Ao mesmo tempo, todas tem suas necessidades, seus pontos fracos, suas desconfianças e fraquezas. E tudo que elas pedem é que as descubra, que desnudem seus desejos e fará sucesso entre elas.”

Então surgiu uma nova geração que, ouvindo as palavras do avô, continuaram a fazer sucesso. E por várias vezes durante épocas viram procissões de mulheres atrás dos açougueiros.

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