sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Comentário / Capitulo 2

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Antes de começar o texto propriamente dito queria falar sobre um erro cometido.No inicio do capitulo 1 dei a entender que a escola para abandonados estava pronta foi um equivoco e percebi o quanto estava confuso então está corrigido.

PS: não leia esse capitulo sem  ter lido o capitulo anterior  : http://tarssiodisa.blogspot.com/2010/10/capitulo-1.html



Capitulo 2 :



Era uma vez, também, o abade Marcos. Um senhor de setenta e poucos anos, olhos azuis, barba por fazer, já quase sem cabelos e com um ar de sabedoria e o corpo bastante castigado de tantas penitências.

Quando pequeno, o Joseph Mauri conheceu apenas o pai. Pai este que veio de uma família italiana bastante humilde que vivia do cultivo de uvas na região sul do país, o sexto de sete irmãos, teve o direito de estudar, ir para a capital e tentar ser alguém na vida.

Seu Mauri encantado com a universidade e com o momento anti-ditatorial se envolveu com a causa estudantil. Em uma noite, chegou em casa às pressas, arrumou as malas do pequeno Joseph e partiram para a Itália às escuras.

E era com as pequenas confraternizações que o pequeno ia relembrando das coisas do Brasil, do futebol, do Rio de Janeiro que viu apenas em fotos, da música, da arte, um pouco de tudo que era brasileiro e que agora era apenas saudade.

Quando fez 15 anos, o Joseph foi “abandonado” em um convento em Roma com um bilhete que apenas dizia: “Filho te amo, volto logo.” E era essa a única lembrança que tinha do pai que agora ele tanto odiava. Como o maior dos seus ícones o deixou ali?

Mesmo assim aos poucos foi se conhecendo e, talvez por falta de opção, descobriu que sua vida era viver para o bem da igreja e do próximo. E aos poucos foi se destacando. Era um menino alegre, apesar de misterioso, gracioso, inteligente, bondoso e fazia fácil muitos amigos. Também se destacava nas aulas de teologia, filosofia, sociologia e todo tipo de ciência.

Aquele descendente de brasileiro agora já era um ítalo-brasileiro. Lembrava pouco do país natal, de onde morava e aos poucos todas as imagens de infância, adolescência, Brasil, família foram sumindo.

Até que, claro, o destino...

E claro que o leitor deve atentar o quanto o destino é perverso. Claro que não é novidade e nem inesperado o que vem a seguir, mas é o que acontece. O destino sempre cobra aos que devem.

Até que claro, o destino fez com que houvesse o reencontro do, agora monge, Mauri com seu pai. O Mauri já tinha seus trinta e dois anos e realizava missas numa pequena comunidade na cidade de Milão, já era um homem formado com um caráter bem definido e infelizmente, mesmo que de forma inconsciente, se sentia amargurado por não ter memórias sobre o que ele realmente era.

O encontro foi marcante. O pai contou sobre suas viagens pelo mundo, as várias perseguições que sofreu, os amores errantes, as noites de choro e arrependimento. Era uma dupla confissão, o pai não só pedia perdão para Deus como também ao seu filho.

Confusa a situação, o Joseph disse que Deus perdoava os pecados do pai e o aplicou uma penitência que aprendeu a “calcular” durante seus tempos de convento. Mas quando perguntado se ele também tinha concedido o perdão, não soube o que responder.

O seu pai saiu revoltado e pouco se importou com o perdão de Deus. O que realmente ele queria não conseguiu.

Aos poucos o Monge Mauri começou a se perguntar sobre o que ele tinha feito e isso lhe consumiu por bastante tempo. Como ele estudara a vida inteira para ser um apóstolo de Cristo e não conseguiu fazer a mais simples e divina obra: perdoar.

E foi assim que começou a se questionar sobre o que realmente era Deus.

Voltou ao convento, fez penitência, trabalho voluntário e foi assim mais dez anos da vida. Afim de encontrar-se em algum livro, em alguma reza, em alguma sala escura, se encontrar na solidão que só o silêncio possibilita.

Paralelamente a isso, teve um sonho um tanto revelador. Nele, uma mulher docemente loira, baixa, com cabelos angelicais, o acariciava com o mais puro dos amores e ele, deitado de olhos fechados, foi se sentindo sufocado.

Além de ter brigado com o pai, agora não sabia quem era aquela mulher, não sabia o que era Deus e acima de tudo não sabia quem realmente era o Joseph Mauri.

Em busca dessas respostas, ele voltou ao Brasil, sua terra-natal. No entanto, apenas as suas dúvidas continuaram. O seu pai estava morto. Nunca encontrou a mãe e nenhum outro parente próximo que pudesse falar algo sobre a sua infância.

Mas, mesmo assim, encontrou algo familiar: um convento. Parecia muito com o convento que cresceu em Roma. Localizava-se em um vilarejo e para ele dedicou o resto de toda a sua vida.

Agora o abade Marcos era um sábio, bom conselheiro, amável e bondoso com todos. Toda a sua peregrinação e os erros cometidos no passado levaram à evolução e formação de um homem que encontrou a Deus em si próprio.

Aliás, o que é mais importante do que descobrir que Deus está em todos nós?

Neste exato momento, batia às seis da tarde e estavam ali todas as pessoas importantes da cidade reunidas para ouví-lo.

O abade propôs a construção de uma escolinha e abrigo para crianças abandonadas, onde elas teriam educação religiosa e profissional. Facilmente convenceu a todos e dali a pouco tempo começariam as obras e também a história.

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