Era um Sertão, qualquer terra batida, pés calejados, braços rudes, corpo desengonçado e meio bambo. Nada se via; nada se havia. Era um tudo sem nexo, vida cinza, mas ninguém nunca disse que era uma vida infeliz.
Não havia sonhos, nunca se implorou por uma gota da agua e tão pouco pediu-se favor a doutores ou políticos ou seja lá o que for.
O Sertão sofria como todo um resto, como os pássaros que não cantavam, como os rios que não desaguavam e as primaveras que tardavam.
Até que um dia, Deus piedosamente ou por gostar de ver desgraça dos outros enviou gotas de chuva e assim fez brotar uma flor no Sertão.
Meu coração sertão ficou abismado a admira-la, cultivei-a, cativei-a, passei meu tempo a observa-la. E vendo a possibilidade dela secar, a levei para casa. Desabriguei toda minha vida, retirei todos meus trapos, todos meus velhos móveis, para colocá-la onde eu pudesse sempre ver.
E sim, aos poucos ela foi rindo para mim. Achei-nos tão feitos um para o outro, que fiz do meu sertão uma vasta floresta, todos os pássaros cantavam, os rios corriam, as flores desabrochavam.
Ao ver a flor secar não soube o que fazer, meu corpo tão rude e calejado pelas dores do sol e do trabalho, voltou a doer. Meu coração se fez novamente Sertão e eu ,que antes acordava cantando, surpreendia-me ao ver sorrir, que andava sumido, na frente do espelho.
Seja por um gole de boa cachaça, por uma lágrima que foge pelos meus olhos ou pelo suor de homem valente, essa flor sempre nasce.
E é muito difícil negar sua existência, muito difícil esquecê-la...
Delírios febris, insônias...