domingo, 6 de fevereiro de 2011

Ato : A travessia.

...

-Meu caro amigo...
- Quem me dera se caro fosse ou se valesse pelo menos um vintém. Nenhum dono de escravo me levou aprisionado para cuidar dos camelos, nenhuma dama criou amores por mim, não tive filhos, não tenho nada e, ainda por cima, estou nesse deserto. Por que eu valeria alguma coisa, prezado amigo?
-Amigo, não se mede o valor de ninguém pelo deserto que ela anda. E, mesmo se fosse possível estimar o valor de alguém desse modo, para mim seria muito valioso a sua companhia e sua conversa pessimista.

Ambos riram e caminharam lentamente pelo deserto. Grão por grão foram sofrendo, pagando, lembrando e comemorando cada novo dia que chegava.

Nenhum oásis poderia pará-los. Iam rumo ao nada, ao desconhecido em busca de uma aventura sem sentido, um amor sem acalanto, um ódio terno, uma vida simplesmente humana.

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